Inquilino que denunciou ter sido vítima de homofobia ao ter dentes quebrados por dono de imóvel diz que está com dificuldade até para comer: 'Abalado e triste'

Inquilino que denunciou ter sido vítima de homofobia ao ter dentes quebrados por dono de imóvel diz que está com dificuldade até para comer: 'Abalado e triste'

Após ter sido espancado, operador de caixa Divino Marcos, de 36, teve três dentes quebrados, além de outros ferimentos pelo corpo e cabeça. Polícia Civil investiga.

O operador de caixa Divino Marcos de Jesus Pereira, de 36 anos, que denunciou ter sido vítima de homofobia ao ser espancado e ter os dentes quebrados pelo dono do imóvel que alugava, disse que está abalado e triste após o ocorrido. O inquilino falou que, por ter tido três dentes quebrados, está com dificuldade até para fazer atividades simples, como falar e se alimentar. A Polícia Civil investiga o caso.

                            “A boca ainda está inchada, tenho dificuldade em falar, em comer. Enquanto não                              arrumar esses dentes, não melhora 100%. Abalado e triste, a gente fica. Não é                                  fácil. Mas vou vencer devagarzinho, com fé em Deus”, disse.

Até a última atualização desta reportagem, o g1 não havia obtido contato com a defesa do suspeito para que se posicione. Até por volta de 17h desta terça-feira (25), a informação é de que ele ainda não tinha sido ouvido pela Polícia Civil.

A agressão aconteceu na última sexta-feira (21), no Setor Central, em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. No dia, Divino contou que foi agredido após o dono do imóvel pedir que ele saísse do apartamento e cobrar, além do valor do aluguel, mais R$ 90 – o que ele teria se recusado a pagar. Ele acredita que o dono do imóvel agiu motivado por homofobia.

Divino ficou com diversos machucados pelo corpo, rosto e cabeça, além dos dentes quebrados.

“Ele veio logo atrás e me deu um soco na boca que quebrou meus três dentes da frente. Pegou meu capacete e bateu na minha cabeça. E o tempo todo me dando soco na cabeça, falando que ‘viado merece apanhar mesmo’”, desabafou o inquilino.

Após a situação, o operador de caixa contou que passou por exames de corpo delito no Instituto Médico Legal (IML) que, segundo ele, comprovaram as lesões. Nesta terça-feira, ele procurou um dentista, mas foi informado de que ainda é necessário que a boca dele desinche para começar qualquer tratamento.

“O dentista falou que tem que esperar dar uma desinchada para poder mexer nos dentes. Amanhã eu vou em outra clínica para fazer orçamento para ver como vai ficar essa reconstrução dos dentes e vou precisar de ajuda", disse.

"Dente não é barato e isso me pegou bem desprevenido. Sozinho eu não tenho condições”, desabafou o operador de caixa.

Inquilino Divino Marcos de Jesus Pereira denuncia que foi vítima de homofobia ao ser espancado e ter dentes quebrados por dono de imóvel, em Trindade, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Divino Marcos de Jesus Pereira

Agressão após briga por aluguel

Conforme o relato da Polícia Civil, a vítima contou que vivia no apartamento alugado pelo suspeito há cerca de três meses e que o suposto autor também mora no mesmo prédio.

O inquilino relatou que, inicialmente, o dono tinha pedido que ele entregasse a casa até 7 de julho, só que, no dia seguinte, falou que tinha errado a data e pedido para que ele saísse em 1º de junho.

Após isso, o morador teria dito que iria sair antes, em 1º de maio, e eles entraram em um acordo. Contudo, quando o inquilino pagou ao homem o valor do aluguel adiantado até a data de saída, o dono disse que tinha faltado R$ 90. Nesse momento, o inquilino teria se recusado a pagar a quantia “a mais” – o que teria motivado o início das agressões e ofensas.

"Eu paguei o valor certo, mas ele falou que estava faltando. Eu tinha negociado com ele de eu pagar na saída e ele não esperou, já veio me agredindo de ruindade, me xingando de bicha, de viado, falando que eu tinha que morrer", disse.

Além disso, o dono do imóvel ainda também teria pedido que o morador entregasse o controle remoto de acesso ao prédio - o que o inquilino também não aceitou, já que ficaria mais alguns dias no apartamento.

Conforme o relato da ocorrência, nesse momento, o dono do imóvel começou a ofender o morador, o chamando de “viadinho” e “filho da puta”, e ainda o agrediu com socos no rosto e golpes de capacete. Depois, o homem ainda teria tomado o controle remoto do portão e dito que a vítima não poderia mais entrar no imóvel.

O inquilino disse que só não foi morto porque um amigo, que passava de carro pela rua, o viu sangrando e parou para ajudá-lo. A Polícia Militar foi chamada, mas o homem teria fugido do local junto com a esposa.

“Ele só não me matou porque meu amigo me viu sangrando e parou o carro”, disse.

Inquilino Divino Marcos de Jesus Pereira, antes de ser vítima das agressões por dono de imóvel, em Trindade, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Divino Marcos de Jesus Pereira

Investigação

Inicialmente, o caso foi registrado em uma Delegacia de Trindade como lesão corporal, injúria racial e exercício arbitrário das próprias razões, que significa “fazer justiça com as próprias mãos”.

Contudo, nesta terça-feira, a Polícia Civil disse que o caso foi repassado para o Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri) e o delegado Joaquim Adorno informou ao g1 que vai investigar o caso.

“O caso chegou hoje ao Geacri, a vítima já passou pelo IML para comprovar as lesões e ainda essa semana o inquérito policial será instaurado para apurar a conduta delitiva em toda a sua extensão”, falou o delegado.