Veigh: Fenômeno do trap já trabalhou com telemarketing e hoje fatura R$ 120 mil por show
Criado na periferia de SP, rapper de 22 anos quebrou recorde com 'Dos Prédios Deluxe'. 'Há um tempo o trap era motivo de chacota, de piada mesmo', diz ao g1. Ouça podcast.
Não tem jeito, goste ou não, só se fala do trap hoje em dia. A variação mais arrastada do rap tem disputado o topo das paradas com o sertanejo em uma ascensão impressionante.
O mais novo fenômeno do gênero é Veigh, rapper criado na Cohab 1 em Itapevi, na periferia de São Paulo.
Aos 22 anos, ele lançou o 2º álbum da carreira, “Dos Prédios Deluxe”, e bateu recorde na semana do lançamento ao estrear em primeiro lugar global do Spotify. Veigh segue no topo com 3 músicas no top 50 da plataforma no Brasil, sendo uma delas o Top 2.
Thiago Veigh já quis ser jogador de futebol, já andou profissionalmente de skate, mas em nenhum dos caminhos prosperou como na música.
Ele chegou a trabalhar como garçom, como puxador de lojas na rua 25 de março e com telemarketing, último trabalho antes de se dedicar à música de vez a partir dos 17 anos.
O primeiro álbum saiu em 2022, "Dos Prédios", mas foi com a continuação que chamou atenção a nível nacional.
"Clickbait", "Ela me Engana Dizendo que Ama" e "Novo Balanço" estão entre as mais ouvidas do novo trabalho e foram todas feitas de freestyle.
O rapper chega no estúdio e começa a compor em cima dos beats. Não tem bloco de notas, gravações caseiras no celular, nada. É tudo de "free", como ele diz em entrevista ao g1.
"Novo Balanço", música que é a segunda mais ouvida do Brasil há semanas, por exemplo, recebeu esse nome em associação a uma marca de tênis.
Ele queria chegar em uma mistura meio "espanhola", mas com cara de Brasil.
"Já tinha essa ideia de falar assim há muito tempo e aí quando o beat começou a tocar no estúdio me lembrou alguma coisa de 'valsa da Espanha' alguma parada".
Veigh gosta é de zoar
Como é comum no trap, as músicas de Veigh falam de curtição, de beber, de drogas, mas o rapper não gosta de nada disso.
"Nem fumo nada, nem bebo nada. Gosto de falar porque tipo é uma parada que eu vivo muito, está sempre em volta de mim e rapaziada se identifica", explica ele.
O rapper diz que consegue "ser" várias pessoas como cantor e que se inspira em situações que vê perto dele e transforma em música.
"Sobre as pessoas que acham que sou um maluco aí por conta das músicas, eu sou o mais tranquilo do que vocês pensam", complementa. O negócio de Veigh é zoar.
"Fico zoando demais os outros, gosto muito de dançar também. Já tive muitas críticas [por ser assim] pelo estilo de música que eu faço, a galera acha que é uma obrigação fazer tudo isso, mas não estou nem aí para os outros".
Veia empreendedora e show de R$ 120 mil
As duas primeiras músicas que bombaram foram "Foto do Corte" e "London Freestyle". Veigh lembra que ainda estava no sufoco recebendo a última prestação do auxílio desemprego do trabalho de telemarketing, mas todo mundo achava que ele estava rico.
Ele não teve um empresário ou uma gravadora parruda que investiu no primeiro álbum. Não teve investimento em mídia na internet para divulgar o trabalho também.
Por trás de "Dos Prédios" está Veigh e os amigos que formaram a produtora e gravadora Supernova. A meta foi, desde o começo, alavancar o nome da empresa junto ao do artista.
"No momento de fragilidade ali, quando a gente precisava do dinheiro, não conseguíamos movimentar de outras formas, rolaram propostas de outras gravadoras, mas agradeço a Deus por não ter escolhido outras e por ter subido a minha própria".
Na Supernova, são três produtores, Nagalli, Bvga Beatz, Toledo e Honaiser, e quatro artistas G.A, G.Hard e Niink, além de Veigh.
Quando começou a ter nome na cena do trap, os convites para shows começaram a chegar, mas Veigh não aceitou logo de cara. Ele sabia que precisava criar um repertório e esperou o melhor momento para entrar no mercado.
Quando saiu o primeiro álbum, cobrava R$ 60 mil, depois do burburinho dos últimos meses conseguiu dobrar o cachê.
"É muito legal que meu trabalho tem sido admirável a esse ponto de conseguir colocar um cachê lá no alto, sabe? Consigo ajudar meus amigos que trabalham comigo dessa forma. Acho que mereço também, porque a gente fica fora de casa por muito tempo, passa por muita coisa".
"Eu achava que era só bem bom, quando via na internet outros artistas fazendo shows e ficava caramba: 'quero ser igual os caras'. Você acha que é só coisas boas, mas trabalhar na noite não é fácil".
'Trap já foi motivo de chacota'
A cena trap é uma das mais fortes no mundo e no Brasil hoje em dia. O gênero briga com força pelo top das paradas historicamente dominada pelo sertanejo e funk.
Veigh defende que o movimento, que tem nomes como Matuê, Teto, Wiu, Jovem Dex, KayBlack, MC Caveirinha entre outros, tem muito a crescer ainda.
"É necessário ter esse crescimento da música urbana, mostrar pro mundo que a rapaziada da comunidade está movimentando, está fazendo algo grande na sociedade".
"Nós mesmos subíamos nossa própria música, fazíamos procedimentos que às vezes nem era tão "entendíveis". Há um tempo o trap era motivo de chacota, de piada mesmo, nem tinha gravadora de trap. Hoje em dia é um tapa na cara da rapaziada que desacreditou, sabe? Então é o momento do trap sim".